Sábado, 19 de Maio de 2007
pensar
para Te escrever um poema
Senhor, é preciso lutar
na palavra de luz constante
para que a rima desapareça
e reapareça a crença da frase
as formas levadas ao lugar
do instante, à humildade
-presença das águas límpidas
tão naturais de origem
como os erros da morte...
Sábado, 12 de Maio de 2007
Livraria Clássica
não sei de mim nem da geração
que alimentou a curiosidade
de muita palavra, as promessas
o costume de quem gosta
de cobaias, as dormidas no chão
a “múmia” do colchão, as donas
do quarto, a limpeza das estantes
os profetas vizinhos de baixo
agourando a queda do piso
das estantes e o peso dos livros;
todo o ano se esperava
por uma sopa, ou melhor
pela feira do livro, pelos amigos
pelas voltas em sentido único
desapercebido, nas raridades
nos empurrões ao desbarato
os poetas, os artistas e os chatos
de revista debaixo do sovaco,
despenteados com o vento
poeirento da avenida da liberdade.
entravam os panascos do parque
às batatas fritas e ao cabrão
do bife no Aviz ou Ribadouro;
e de que gritos suplicava correndo
bufando atrás das gajas o artista,
mítico pintor da nossa praça
impecável vestido e penteável
sereno ao despejar o saco, buff...
buff, dizia irritado do cheiro a putas.
de resto ao fim do dia ainda se comia
as tapas em pão de centeio, old rarity
quando não se bebia um tinto chambrér
e deixar que os galegos bocejassem
e subir avenida conversando a romper
quase na aurora o desgaste e o cansaço.
Terça-feira, 8 de Maio de 2007
com significado da verdade
decorre o conceito da retórica,
a sede sensual, o copo d'água
que emerge da mão, ritual
numa outra palavra, ginástica
mental para não dizer nada
coexistida na forma, a diagonal
frase que se desfaz, acentuada
vem o clic da máquina digital
momento da foto entra em parto
sem consentimento, e rápido
ou está tudo mal e logo se nota
a foto do arraial e casamento
Segunda-feira, 7 de Maio de 2007
“[...] Los pintores modernos en sus blancos estúdios
cortan la flor aséptica de raiz cuadrada.
En las aguas del Sena um iceberg de marmói
enfría las ventanas y disipa las yedras [...]”
Federico Garcia Lorca
os pintores modernos
nos seus brancos ateliês
cortam a flor asséptica
de raiz quadrada...
deixo que as maravilhas de Tarso
cheguem a mim num deserto
de emoções e desesperos
de tabuada mal estudada
produzo tempos e imagens
que se esquecem de viver
nos paraísos esotéricos
de arquivos mal dormidos;
deles emigram as aves
em quilómetros de acetato
micro micróbios pensados
frame a frame destruídos;
libertos saem ilustrados,
depois nascem verdades
em muro circundado
d’águas de um icebergue
esfria as narinas
e dissipa as heras.