Terça-feira, 13 de Dezembro de 2005
Li, a seu tempo, o romance "Os Cus de Judas" de António Lobo Antunes, nos anos 70. Confesso que na primeira leitura, agora chamada na diagonal, pareceu-me uma prosa desarrumada, desconceituada no aspecto "gráfico-sintáctico". Mas, li alguns capítulos. E voltei atrás para recomeçar numa leitura mais disponível, com mais, digamos, paciência e atento à nova linguagem da sua escrita -porque reflecti sobre a razão estilística do assim "ser". Digo, por outro lado, que renasci do bloqueio das duas décadas precedentes, após a leitura dos romances seguintes de Lobo Antunes. Fez-me sentir noutro mundo narrativo, um pouco semelhante à técnica do romance policial, mas de tal maneira eficaz que, concluí ser a sua prosa pós-neorealista, elaborada para se efectuar uma leitura bem mais rápida, cinética, algumas vezes poética, autobiográfica e contraditória de uma sociedade onde a loucura, se encontra fora das grades dos hospícios. O percurso da minha geração -e do escritor-, encontra-se retratado na sua obra literária, desde a "Memória de Elefante", que obviamente veio incomodar muita gente. António Lobo Antunes foi candidato, várias vezes, ao Prémio Nobel, por mérito do seu perfil de escritor que não é apenas "local"; lê-se em qualquer língua, fazendo-se compreender numa comunicação universal, que se chama, sinceridade e actualidade. Que mais é preciso?