José Saramago parece gostar de janelas. Há diversas posições de pose, pedidas ou estudadas à janela, normalmente fechada protegendo o que se julga ser a melhor posição de fotogenia. A última que lhe conheço não sendo parecida é igual: ar circunspecto de profundo olhar para além do espaço que transcende o seu universo. Ou, talvez, como que uma reclusão intelectual por detrás da janela de aros de madeira mal pintados, olhando entre vidros o profundo não ser do seu mundo exterior, que o não protege dos seus conflitos existenciais, pois "o universo não tem notícia" da sua existência porque, os que o vêem passar na rua não dirão, "vai ali um materialista", antes, um prémio Nobel, "uma pessoa que tem as suas ideias as suas opiniões, os seus sustos, as suas esperanças"...Quais?-aquelas do Fernando "Pessoa sair do Cemitério dos Prazeres e passear por Lisboa com Ricardo Reis" -achado brilhante [na minha ideia conceptual das coisas em movimento] no seu romance, O Ano da Morte de Ricardo Reis? Talvez não: seria aproximar-se de uma ideia de reencarnação futurista de um qualquer beato da igreja católica. No fundo, o seu conflito não é com Deus mas sim com a Igreja Cristã, tanto mal concebido como entendido, no seu "Evangelho" temático para júris ver, o polemizado conteúdo intertextual de, O Evangelho segundo Jesus Cristo. O tema da morte é uma tentação, uma desilusão, uma frustração para quem não pediu para nascer. Não sei se o universo filosófico de Saramago tem alguma explicação genética, espontânea darwiana, religiosa/marxista, nietzschiana, para o "fenómeno" do percurso do nascer até à morte; de Nietzsche, disse Zaratustra, "como todos os elucidados do além" dizia que o mundo parecia-lhe "um sonho, um poema inventado por Deus. Uma nuvem irisada abrindo-se diante dos olhos de um divino descontente". Em que ficamos; Deus, Darwin, Nietzsche ou Saramago?
Eu estou aqui!...AQUI...i...i...